Por Ricardo Brito e Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) – O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está convocando apoiadores a participar de comícios de rua ao lado de desfiles militares que marcam o Dia da Independência nesta quarta-feira, uma manifestação que pode avaliar o apoio aos ataques do líder de extrema-direita a instituições democráticas antes das eleições de outubro.
Na capital, Brasília, as autoridades de segurança estão se preparando para uma multidão de 500 mil pessoas no shopping central, ao qual Bolsonaro se dirigirá após supervisionar o tradicional desfile militar que marca o 200º aniversário da independência do Brasil de Portugal.
A polícia reforçou a segurança ao longo da Esplanada gramada para impedir qualquer tentativa de avançar para a Suprema Corte, onde há um ano ameaçou marchar em uma manifestação inspirada no ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA.
Os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro – e aos tribunais que o regulam – provocaram pedidos de golpe militar de seus apoiadores radicais. Alguns temem que ele esteja preparando as bases para alegar fraude eleitoral como seu aliado dos EUA, o ex-presidente Donald Trump, e rejeitar qualquer vitória do rival de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que as pesquisas dizem que antes de uma votação de 2 de outubro lidera a corrida.
Caricaturas políticas sobre líderes mundiais
Bolsonaro alegou que as pesquisas estão distorcidas, os tribunais favoreceram Lula e o voto eletrônico no Brasil está cheio de fraudes sem fornecer nenhuma evidência. Pressionado em rede nacional há duas semanas, ele disse que respeitaria o resultado da eleição desde que a votação fosse “limpa e transparente”, sem definir nenhum critério.
A retórica de Bolsonaro sobre a integridade eleitoral e os tribunais eleitorais serão examinados de perto na quarta-feira, assim como seus esforços para confundir as linhas entre as celebrações militares e sua própria campanha presidencial.
Bolsonaro, um ex-capitão do Exército que disse aos apoiadores que o Exército está “do nosso lado”, pediu para transformar uma tradicional manifestação militar do Dia da Independência no Rio de Janeiro na tarde de quarta-feira em um segundo comício político.
Oficiais do Exército rejeitaram uma sugestão inicial de marchar tropas e tanques ao longo da famosa praia de Copacabana, mas chegaram a um acordo com o comandante em chefe. Bolsonaro acompanhará tiros simbólicos de canhão, exibições de pára-quedistas, acrobacias da Força Aérea e um desfile naval antes de discursar em um comício político no local.
Comícios no Rio e em Brasília vão animar os principais apoiadores de Bolsonaro, mas ele corre o risco de aumentar os números da oposição se sua retórica esquentar, como aconteceu no Dia da Independência do ano passado. Na ocasião, insultou o ministro do STF Alexandre Moraes e ameaçou desrespeitar suas sentenças – comentários que logo retirou sob intensa pressão política.
Moraes, que agora chefia a principal corte eleitoral do Brasil, não vacilou em seus confrontos com Bolsonaro e seus apoiadores. No mês passado, ele autorizou batidas policiais contra empresários que apoiavam o presidente depois que uma reportagem da mídia os acusou de discutir um golpe se ele perdesse em outubro.
Os gestores da campanha de Bolsonaro o aconselharam a evitar ataques ao Judiciário, mas não descartam uma repetição do ano anterior.
“Ninguém pode segurar Bolsonaro. Seus principais apoiadores estão revoltados com Moraes agora e vão mostrar isso no dia 7 de setembro”, disse uma fonte da campanha presidencial que não estava autorizada a falar livremente.
(Reportagem de Ricardo Brito e Anthony Boadle; Edição de Brad Haynes e Richard Chang)
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