- Autor, Marcus Alves
- Papel, BBC Esporte
Já passava da meia-noite, mas centenas de torcedores se reuniram do lado de fora da Frankfurt Arena na esperança de ver seu herói pela última vez antes de voltar para casa.
No final, a espera valeu a pena, pois Cristiano Ronaldo sorriu e acenou-lhes ao sair do estádio no autocarro da selecção nacional.
Este foi o fim de um dia que ficará connosco para sempre, independentemente do que aconteça na sexta-feira, quando Portugal defronta a França nos quartos-de-final do Euro 2024.
Ronaldo chorou com a Seleção em várias ocasiões, mas nunca começou a chorar como na segunda-feira, depois que um pênalti foi defendido na prorrogação de uma partida dramática das oitavas de final contra a Eslovênia.
Por fim, ainda havia um jogo a vencer – o que finalmente fizeram nas grandes penalidades, com o guarda-redes Diogo Costa a brilhar após o empate a 0-0.
Isso foi diferente de tudo em sua ilustre carreira.
Aos 39 anos, parecia que o único inimigo que ele tão teimosamente queria fugir finalmente o alcançou: o tempo.
Ronaldo tem sido a maior estrela de Portugal nas últimas duas décadas, ganhando troféus e conseguindo mudar a percepção de uma equipa anteriormente conhecida no seu país pela sua mentalidade perdedora. Mas ele ainda não marcou nenhum gol neste torneio.
Porém, segundo pesquisa do site Mais Futebol, ele ainda pode contar com o apoio dos compatriotas: 54% deles querem que ele seja titular nas quartas de final de sexta-feira, contra a França.
Nem mesmo o colapso dele em Frankfurt conseguiu abalar a confiança dela.
“Se há algo que você pode tirar disso, é a profunda humanidade do momento. Há em Ronaldo a autenticidade de um menino de rua”, disse Henrique Raposo, colunista do jornal Expresso.
“Quem acompanha a carreira dele sabe que ele sempre chorou de alegria ou de frustração, sem medo da atenção. Isso faz dele uma estrela da mídia incomparável.”
Bernardo Ribeiro, diretor do jornal Record, acrescentou: “Não sei o que fez Ronaldo chorar – se foi a visão da mãe chorando, a perda do seu país ou a perda de si mesmo.
“Seja qual for o motivo, todos são compreensíveis, porque mesmo os mais egoístas deles nos mostram o que sabemos há muitos anos. Para o bem ou para o mal, ele é um animal competitivo.”
Independentemente da simpatia local pelas suas lágrimas, existe a sensação de que tal mentalidade já não ajuda a equipa tanto como antes.
“Seu lado mental sai”
O desempenho de Ronaldo frente à Eslovénia certamente não ajudou a sua causa, já que conseguiu 20 remates à baliza, mais do que qualquer outro jogador na competição, mas ainda assim não conseguiu marcar, apesar de ter aparecido em todos os jogos até agora.
A cobrança de falta de fora pela ala esquerda apenas reforçou a impressão de que ele estava apenas encenando seu próprio espetáculo para se tornar o artilheiro mais velho e o primeiro jogador a marcar em seis edições diferentes do Campeonato Europeu.
“Há seis ou sete anos, Ronaldo teria facilmente feito três gols neste jogo. Mas ele não tem mais o mesmo salto, o mesmo dinamismo, o mesmo equilíbrio para chutar em alta velocidade e os mesmos dribles. Todas estas situações revelam o seu lado mental nos momentos de frustração”, argumenta Luís Cristovão, especialista da SIC Noticias.
“É a primeira vez que ele disputa uma grande competição, embora venha de uma formação muito menos competitiva. [Saudi Arabia] em comparação com o que ele enfrenta na Alemanha.”
O técnico Roberto Martinez, que já está no cargo há 18 meses – ou 20 jogos – também foi criticado pela forma como lidou com a situação.
“Ele tem que parar de agir como um diplomata com um arco-íris nos olhos”, disse Tomas da Cunha, especialista da DAZN, da Rádio TSF e do podcast “No Principio Era A Bola”.
“Ronaldo foi titular em todos os jogos e claro que a equipe o procura na zona de finalização, mas fisicamente ele não é mais o mesmo e também dá para perceber que isso o afeta mentalmente quando não consegue fazer a diferença.
“Seria função do treinador utilizar outros jogadores. Onde mais você veria um jogador de 39 anos jogando quatro partidas em duas semanas durante uma competição em julho? Ou 120 minutos em um jogo das oitavas de final? Em nenhum outro lugar.”
“Clube de apoio a Cristiano Ronaldo”
O clima em Portugal antes do jogo com a França é tal que o jornal A Bola descreveu a equipa como uma “associação de adeptos de Cristiano Ronaldo”.
A retirada do atacante do Al-Nassr do elenco exigiria, sem dúvida, muita habilidade diplomática de Martinez, considerando o que aconteceu na última vez que um técnico decidiu colocar o capitão do time no banco.
Isso aconteceu na Copa do Mundo de 2022, no Catar, quando o então técnico Fernando Santos substituiu Ronaldo por Gonçalo Ramos, que marcou três gols na vitória por 6 a 1 sobre a Suíça nas oitavas de final. Ramos manteve o lugar nos quartos-de-final frente a Marrocos, mas Portugal acabou por perder por 1-0.
Porém, este foi o fim da relação entre Santos e Ronaldo.
“Não nos falamos desde o Qatar”, admitiu Santos ao A Bola em novembro do ano passado. “Tive uma relação muito próxima com o Ronaldo, uma relação pessoal que vai além da profissional.”
“Nos conhecemos no Sporting quando ele tinha 19 anos e depois disso fortalecemos a nossa relação. Era um pouco como uma relação pai-filho. Não aceito muito bem. Pelo menos ele sabe que estou aqui.
Martinez estará disposto a suportar a mesma situação?
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