PORTO, Portugal — Virando na Rua dos Clérigo, somos confrontados com o que parece ser um cruzamento entre um número de circo e uma loja de doces saídos dos sonhos febris de Willy Wonka. Claro, eu tenho que entrar. O que me deparei não foram pastéis açucarados, mas filas e filas de latas de sardinhas – também conhecidas como ouro português.
O Fantástico Mundo das Sardinhas Portuguesas é uma das 12 lojas espalhadas por Portugal que promovem a empresa Comur, apelidada de conservas portuguesas. A pessoa fica instantaneamente impressionada com as centenas, senão milhares, de latas alinhadas nas paredes vermelhas. Um carrossel de latas está na frente de uma janela e uma roda gigante está na frente de outra.
As latas ao longo das paredes são empilhadas por anos, cada uma com o fato do ano em questão impresso. Outras latas contêm factos sobre a história portuguesa e figuras históricas famosas. Cada lata é adornada com uma ilustração litográfica original, tornando esta loja tanto uma galeria de arte quanto uma mercearia.
Um expositor tem latas que parecem barras de ouro, perfeitas para sardinhas como o Ouro Português.
E não são só sardinhas. A empresa Comur iniciou-se efectivamente em 1942 na Murtosa, Aveiro, como exportadora de enguias. Hoje a empresa produz cerca de 30 artigos, entre polvo, búzios, cavala, bacalhau fumado, espadarte, mexilhão e atum. Tem até opção vegetariana de pãozinho de grão de bico e cenoura.
Um artigo do New York Times de 2022 afirmou que as sardinhas estão ganhando popularidade entre os jovens devido aos seus benefícios para a saúde, pois contêm altos níveis de proteína e cálcio e níveis relativamente baixos de mercúrio. Eles também são considerados sustentáveis.
A colheita da sardinha remonta à Idade do Ferro, quando os fenícios e os gregos a conservavam em vasilhas cheias de sal. A primeira fábrica de conservas comercial de Portugal abriu em 1853. O início dos anos 1900 viu a “Corrida do Ouro Português”, com empresários, principalmente da França, abrindo fábricas de conservas em todo o país.
A sardinha assada tem um papel importante na maior festa de rua do Porto, a Festa de São João do Porto, que se realiza todos os anos a 23 de junho. Embora celebre João Batista, o festival tem raízes em rituais pagãos de namoro. Como parte do ritual de namoro, as pessoas batem umas nas outras com flores de alho ou pequenos macetes de plástico.
As sardinhas são onipresentes em todo o Porto, com os peixes representados em camisetas, chaveiros, chapéus e qualquer brinde turístico que se possa imaginar.
O Fantástico Mundo da Sardinha Portuguesa está sempre cheio de turistas e locais, “embalados como sardinhas” (frase que remonta a 1911), comprando latas correspondentes ao ano de nascimento. Esta é uma fascinante introdução à história do humilde peixe que é a realeza da pesca portuguesa.
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