13h JST, 28 de abril de 2024
LISBOA (Reuters) – O governo de Portugal disse neste sábado que se recusou a iniciar um processo para pagar reparações pelas atrocidades cometidas durante a escravidão transatlântica e a era colonial, contrariando comentários anteriores do presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Entre os séculos XV e XIX, 6 milhões de africanos foram raptados e transportados à força através do Atlântico por navios portugueses e vendidos como escravos, principalmente no Brasil.
Rebelo de Sousa disse no sábado que Portugal poderia utilizar vários métodos para pagar reparações, como o cancelamento de dívidas de ex-colónias e a concessão de financiamento.
O governo afirmou em comunicado à agência noticiosa portuguesa Lusa que pretende “aprofundar as relações mútuas, o respeito pela verdade histórica e uma cooperação cada vez mais intensa e estreita baseada na reconciliação de povos irmãos”.
No entanto, acrescentou que não houve “nenhum processo ou programa de medidas específicas” para o pagamento de reparações, observando que esta linha também foi seguida por governos anteriores.
Descreveu as relações com as ex-colónias como “verdadeiramente excelentes” e, além da cooperação financeira, orçamental e económica, mencionou também a cooperação em áreas como a educação, a língua, a cultura e a saúde.
Na terça-feira, o presidente insinuou a necessidade de reparações, suscitando fortes críticas dos partidos de direita, incluindo o parceiro júnior da Aliança Democrática na coligação no poder, o CDS-Partido Popular, e o Chega, de extrema-direita.
“Não podemos colocar isso debaixo do tapete ou na gaveta. Temos o dever de gerir e liderar este processo (de reparações)”, disse o presidente aos jornalistas no sábado.
O período colonial de Portugal durou mais de cinco séculos, com Angola, Moçambique, Brasil, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e algumas áreas da Ásia caindo sob o domínio português.
A descolonização dos países africanos e o fim do império em África ocorreram apenas alguns meses depois da “Revolução dos Cravos” de Portugal, em 25 de Abril de 1974, ter derrubado a mais longa ditadura fascista na Europa e inaugurado a democracia.
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