Um hacker português assumiu a responsabilidade pela divulgação de centenas de milhares de ficheiros que mostram como o bilionário angolano e ex-primeira filha Isabel dos Santos construiu o seu vasto império empresarial, disseram os seus advogados na segunda-feira.
O hacker Rui Pinto já é conhecido por estar por trás do “Football Leaks” – 70 milhões de documentos que expõem as negociações de vários clubes de futebol.
Agora, os advogados de Pinto, William Bourdon e Francisco Teixeira da Mota, revelaram que o seu cliente também estava por detrás dos ficheiros apelidados de “Luanda Leaks” que foram obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) e publicados por vários órgãos de comunicação social na semana passada.
O jovem de 31 anos já está acusado pelo Ministério Público português de 93 crimes, sobretudo relacionados com alegados acessos não autorizados a dados, tentativa de chantagem e violação de correspondência. Atualmente aguarda julgamento numa prisão de Lisboa. Seus advogados disseram que ele agiu apenas no interesse público.
Resta saber se a última revelação terá algum impacto no caso em curso contra Pinto. Seus advogados o defenderam repetidamente como um “denunciante”.
Num comunicado enviado à Reuters, os advogados afirmam que Pinto entregou à plataforma de proteção de denunciantes um disco rígido “contendo todos os dados relacionados com as recentes revelações sobre os bens de Isabel dos Santos, da sua família e de quaisquer atores que possam ter estado envolvidos” em África. (PPLAAF) final de 2018.
Os advogados disseram que Pinto permitiu que o PPLAAF, cofundado pelo próprio Bourdon, utilizasse os dados “como quisessem”. O PPLAAF informou então o ICIJ.
“Sem as imensas revelações do Luanda Leaks tornadas possíveis graças ao nosso cliente, as autoridades reguladoras, policiais e judiciais nada teriam feito”, afirmaram os advogados. “Graças e só graças ao nosso cliente, os cidadãos portugueses e o mundo têm acesso à verdade sobre um extraordinário sistema de exploração e corrupção.”
Dos Santos negou repetidamente qualquer irregularidade. “Sempre cumpri a lei e todas as minhas transações comerciais foram aprovadas por advogados, bancos, auditores e reguladores”, disse ela num comunicado na quinta-feira.
Poucos dias depois das primeiras notícias do Luanda Leaks, os procuradores angolanos nomearam dos Santos e quatro cidadãos portugueses como suspeitos formais por alegações de má gestão e apropriação indevida de fundos durante o período de dos Santos como presidente da empresa petrolífera estatal Sonangol.
O Ministério Público de Angola divulgou um documento judicial em 31 de Dezembro do ano passado declarando o congelamento dos bens em Angola de Dos Santos, do seu marido Sindika Dokolo e do sócio comercial Mário Leite da Silva.
O documento afirmava que o governo reuniu provas suficientes para provar que o trio desviou 1,1 mil milhões de dólares em fundos governamentais para empresas privadas nas quais detinham ações.
O procurador-geral de Angola, Helder Pitta Groz, disse à emissora portuguesa RTP na sexta-feira que os documentos do Luanda Leaks revelaram “algumas operações e ligações que não tínhamos a certeza se estavam a ocorrer, e não sabíamos de uma ou de outra”.
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