O Brasil nunca esteve tão disposto a reprimir notícias falsas

Quatro anos após um tsunami de falsidades relacionadas às eleições presidenciais, o Brasil entra na temporada de campanha de 2022 muito mais bem equipado. O país tem mais verificadores de fatos profissionais. As plataformas de mídia social construíram salas de guerra. Os influenciadores estão combatendo as fake news e ferramentas fantásticas foram desenvolvidas para combater a desinformação e a desinformação em língua portuguesa.

Como sempre, candidatos, partidos e apoiadores trabalharão duro para difundir narrativas capazes de minar seus rivais, mesmo que contenham dados enganosos ou falsos. Mas é claro que os brasileiros, inclusive as autoridades, estão muito mais vigilantes e prontos para combater essas mentiras.

Em 2018, a grande maioria da população acreditava no conteúdo de vídeos, fotos e textos compartilhados por amigos e familiares. Poucos brasileiros, principalmente nas grandes cidades, conheciam o trabalho dos fact-checkers, e pouquíssimos cidadãos tiveram a oportunidade de, de alguma forma, avaliar a veracidade do conteúdo usando bancos de dados e ferramentas online.

Em 16 de agosto, quando a campanha de 2022 começar oficialmente, seis organizações certificadas de checagem de fatos estarão totalmente operacionais no Brasil: Lupa, Estaão Verifica, Aos Fatos, UOL Confere, AFP e Reuters. A frase “fake news” se popularizou e é compreendida até mesmo em pequenas comunidades rurais. Nos últimos quatro anos, os brasileiros aprenderam que devem duvidar do conteúdo que veem online e podem reconhecê-lo muito melhor do que antes.

Infelizmente, o governo federal não participou desses esforços. Em vez disso, o presidente Jair Bolsonaro fez alegações falsas repetidamente sobre a integridade do sistema eleitoral brasileiro, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) e outras questões.

Da reportagem especial de outubro passado sobre o combate às fake news:

Apesar disso, o Brasil está bem posicionado para as eleições deste ano. As plataformas de mídia social fizeram muito trabalho nos últimos quatro anos. A pedido do TSE, que criou um comitê antidesinformação, 11 grandes empresas de tecnologia apresentaram planos concretos para combater a desinformação e a desinformação nas eleições brasileiras de 2022. Eles revisaram e ajustaram suas políticas públicas, contrataram mais funcionários e aumentaram seus investimentos em produtos desenvolvimento. O grupo está obviamente tentando parecer bom (ou melhor do que 2018), mas seus esforços foram notados e continuarão a ter impacto a longo prazo.

Entrando em 2022, as autoridades estão cientes dos danos que a desinformação e a desinformação podem causar e o risco que a própria democracia enfrenta. Por exemplo, a Suprema Corte proibiu canais e perfis que espalham mentiras sobre as urnas e ordenou que plataformas removessem conteúdos falsos sobre vários candidatos. O ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, que também é presidente do TSE durante toda a campanha, disse abertamente que os candidatos podem perder o direito de concorrer a cargos públicos se suas campanhas disseminarem narrativas falsas.

Capa da AQ em outubro de 2021 mostrou uma imagem fact-checked do noticiário do Voz das Comunidades.

Também é ótimo ver que, ao contrário de 2018, centenas de influenciadores digitais parecem prontos para combater a desinformação e a desinformação. Um grupo de 30 celebridades online visitou o TSE em 4 de agosto para entender como as urnas funcionam e como ensinar seus seguidores a identificar conteúdos enganosos. Esses 30 influenciadores podem atingir 10 milhões de pessoas com apenas alguns cliques e promoverão o conteúdo baseado em dados o máximo possível.

Novas ferramentas também estão disponíveis – e em português! Em uma plataforma, um bot está pronto para apontar o minuto e o segundo de um vídeo que pode conter uma inverdade sobre o sistema de votação. Entre as medidas menos óbvias, mas ainda assim importantes, está um programa de transcrição de fala para texto que acaba de ser lançado em português e é gratuito para uso dos jornalistas. Essa ferramenta visa permitir que os jornalistas passem mais tempo identificando e, consequentemente, combatendo as notícias falsas relacionadas às eleições. Os fabricantes estimam que em 2018 os jornalistas passariam 50 horas transcrevendo suas próprias entrevistas com candidatos e outras figuras importantes. Em 2022 eles devem passar apenas oito horas.

Por todas essas razões, é possível ser otimista. A desinformação está em cena agora, e muitos brasileiros estão prontos para combatê-la. O próximo tópico na mesa este ano é o discurso de ódio, que provavelmente será nossa próxima lição.

Tardáguila é Diretora Sênior de Programas do Centro Internacional para Jornalistas e fundadora da Lupa, agência brasileira de checagem de fatos

Tag: Eleições 2022, Brasil, Desinformação

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Quaisquer opiniões expressas nesta peça não refletem necessariamente as de América trimestral ou seus editores.

Isabela Carreira

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