LISBOA (Reuters) – Portugal vai às urnas em março, após a renúncia repentina do primeiro-ministro em meio a uma investigação de corrupção. Mas os eleitores e analistas temem a continuação da instabilidade política à medida que as perspectivas económicas pioram.
António Costa demitiu-se na terça-feira, no meio de uma investigação sobre alegadas ilegalidades na gestão de projetos de energia verde pelo seu governo, forçando o presidente Marcelo Rebelo de Sousa a convocar eleições antecipadas para 10 de março. Costa nega irregularidades.
A primeira pesquisa de opinião desde a renúncia de Costa, divulgada pela Intercampus na sexta-feira, mostrou que seu Partido Socialista (PS) caiu para 17,9%, ante 25,2% em outubro, enquanto a oposição de centro-direita, Social Democratas (PSD), subiu 21,8%. Descobriu-se que quase 20% dos eleitores estavam indecisos.
André Azevedo Alves, professor de ciências políticas na Universidade Católica, em Lisboa, e na St. Mary’s University, em Londres, disse que a investigação de corrupção foi um “golpe muito sério” para todas as ambições do PS. Costa está no poder desde 2015.
Os analistas concordam que é provável que o PSD saia vencedor, mas questionam a sua capacidade de obter apoio suficiente para formar um governo estável.
André Ventura, o líder populista do Chega, de extrema-direita, a terceira força mais forte no parlamento, poderá tornar-se o fazedor de reis do PSD se este não conseguir obter a maioria, mas o líder do PSD, Luis Montenegro, até agora descartou tal aliança.
A sondagem intercampus mostrou o apoio do Chega nos 13%.
“Assumindo a probabilidade de o PSD não ter votos (suficientes) para formar um governo sem o Chega, poderá passar de uma crise política para outra”, disse Alves.
Antonio Barroso, dos conselheiros políticos de Teneo, disse que o PSD e o seu “líder não particularmente popular” podem ficar tentados a formar uma coligação com partidos de direita mais pequenos, como a Iniciativa Liberal ou o CDS-PP, antes das eleições.
“No entanto, não está claro se os partidos menores de centro-direita seriam receptivos a tal aliança”, disse ele.
Enquanto esperava um autocarro no centro de Lisboa, Ana Bernardino, de 23 anos, manifestou preocupação com o panorama político.
“É uma crise política e acho um pouco frustrante que as eleições voltem a acontecer… estou um pouco assustado.”
Desde que chegou ao poder, após uma crise da dívida e um resgate internacional, Costa tem desfrutado de um período de crescimento económico e finanças públicas sólidas, mas o seu governo tem sido criticado por não fazer o suficiente para conter o aumento do custo de vida em Portugal e fora da Europa.
“Parece que o país está em ruínas… se olharmos bem, os problemas são sempre os mesmos. Quem paga a conta somos nós”, afirmou outra lisboeta, Maria Inês Ferreira.
Reportagem de Catarina Demony, Miguel Pereira e Patrícia Rua; Edição de Andrei Khalip, Nick Macfie e Angus MacSwan
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