A seca de inverno e a falta de chuva estão se tornando a nova norma em Portugal, disse o grupo ambientalista Zero na quinta-feira, pedindo uma gestão adequada da água.
Em conversa com a Lusa, o Presidente da Zero, Francisco Ferreira, escrito que a seca, que atinge quase todo o território, deixou de ser uma anomalia porque é cada vez mais frequente e deve ser lida no contexto das alterações climáticas.
Além da seca meteorológica por falta de chuva, o ambientalista notou que o armazenamento de água nas bacias hidrográficas do Algarve é “realmente dramático” nos rios Barlavento, Mira e Sado, e a norte nos rios Cávado, Douro, Ave e Lima , com valores em torno de 20% quando “a média é 60%”.
Exceções são rios como o Guadiana, Arade ou Mondego: “Em todo o resto somos perigosos por baixo, no caso do Barlavento”.
As duas situações – seca e problemas de armazenamento – não estão necessariamente ligadas, mas neste caso vêm juntas com o que Zero critica na política agrícola: a expansão das áreas irrigadas, com cultivos intensivos exigindo muito mais água do que as espécies nativas.
“Algumas espécies estão dispostas a lidar com essas circunstâncias, o problema é quando temos culturas agrícolas que se tornam dependentes da água. Os ecossistemas do Algarve e do Alentejo são resilientes, sendo o pior deles as culturas como os mirtilos, os abacateiros, os olivais intensos. Por que continuamos investindo brutalmente para expandir a irrigação?”, questionou.
“A agricultura é o principal consumidor de água, pois consome 70% da água disponível e mesmo com medidas de eficiência na rega não faz sentido investirmos nela quando Portugal vai enfrentar graves consequências das alterações climáticas. E a ideia de que mais barragens podem garantir esse investimento na irrigação contraria completamente a necessidade de proteger rios e estuários”, argumentou Ferreira.
As culturas que dependem da barragem do Alqueva “continuam seguras, mas para quem depende de outras barragens como o rio Mira ou o Monte da Rocha [Ourique]a situação é muito complicada”, acrescenta.
Francisco Ferreira reclamou que “o programa nacional de eficiência hídrica nunca foi levado a sério por este governo e pelo anterior”.
“Infelizmente continuamos a reagir espontaneamente, só quando estamos em seca é que começam as campanhas públicas e nos perguntamos o que vai ou pode acontecer. Um programa como esse significa ação, investimento, monitoramento, mas na prática não tem funcionado”, afirmou.
O presidente da Zero aponta que deve haver “estratégias de adaptação” às mudanças climáticas porque é claro que o território está “sofrendo com as consequências”.
Mais de metade de Portugal Continental (57,7%) encontrava-se em situação de seca moderada no final de dezembro, com uma ligeira diminuição da classe de seca severa e um aumento da classe de seca moderada, segundo dados do Instituto Marítimo e Atmosférico de Portugal (IPMA).
(António Pereira Neves, Lusa.pt)
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