Sol em dezembro, seca em janeiro é o novo normal em Portugal – EURACTIV.com

A seca no inverno e a falta de chuva estão se tornando a nova norma em Portugal, disse o grupo ambiental Zero nesta quinta-feira, pedindo uma gestão adequada da água.

Em conversa com a Lusa, o Presidente Zero Francisco Ferreira, escrito que a seca, que atinge quase todo o território, deixou de ser uma anomalia porque está se tornando mais frequente e deve ser lida no contexto das mudanças climáticas.

Além da seca meteorológica por falta de chuva, o ambientalista salientou que o armazenamento de água nas bacias hidrográficas do Algarve é “realmente dramático” nos rios Barlavento, Mira e Sado, e a norte nos rios Cávado, Douro, Ave e Lima , com valores de cerca de 20% quando “a média é de 60%”.

As excepções são rios como o Guadiana, o Arade ou o Mondego: “Em todo o lado somos perigosos por baixo, no caso do Barlavento”.

As duas situações – seca e problemas de estocagem – não estão necessariamente ligadas, mas neste caso confluem com o que Zero critica na política agrícola: a expansão das áreas irrigadas, com cultivos intensivos exigindo muito mais água do que as espécies nativas.

“Algumas espécies estão dispostas a lidar com essas circunstâncias, o problema é quando temos culturas agrícolas que se tornam dependentes da água. Os ecossistemas algarvios e alentejanos são resilientes, sendo os piores os cultivos de mirtilo, abacate, olival intenso. Como continuamos a fazer investimentos brutais para expandir a irrigação?”, disse ele.

“A agricultura é o principal consumidor de água, pois consome 70% da água disponível, e mesmo com medidas de eficiência na irrigação, não faz sentido investirmos nela quando Portugal vai enfrentar graves consequências das alterações climáticas. E a ideia de que mais barragens possam garantir esse investimento em irrigação vai totalmente em desacordo com a necessidade de proteger rios e estuários”, argumentou Ferreira.

As culturas que dependem da barragem do Alqueva “ainda estão seguras, mas para quem depende de outras barragens como o rio Mira ou o Monte da Rocha [Ourique]a situação é muito complicada”, acrescenta.

Francisco Ferreira reclamou que “o programa nacional de eficiência hídrica nunca foi levado a sério por este governo e pelo anterior”.

“Infelizmente ainda reagimos de forma espontânea, só quando estamos na seca é que começam as campanhas públicas e nos perguntamos o que vai ou pode acontecer. Um programa como esse significa ação, investimento, monitoramento, mas na prática não deu certo”, disse.

O presidente da Zero ressalta que deve haver “estratégias de adaptação” às mudanças climáticas porque é claro que o território está “sofrendo as consequências”.

Mais de metade de Portugal Continental (57,7%) encontrava-se em situação de seca moderada no final de dezembro, com um ligeiro decréscimo na classe de seca severa e um aumento na classe de seca moderada, segundo dados do Instituto Marítimo e Atmosférico Português (IPMA).

(António Pereira Neves, Lusa.pt)

Fernão Teixeira

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